
Já tás mais para lá do que para cá, neste momento em que te escrevo,e estas sao palavras que nunca ouvirás, não quer dizer que não as mereças, pelo contrario, mas sou demasiado covarde para expressar dessa forma tudo aquilo que te devo, e é tanto. Sinto um nó na garganta sempre que te vejo, perdoa-me se agora nao estou tão presente, mas esfaqueias-me bem no coraçao cada vez que te enganas no meu nome e tu sabes como isso se tornou frequente. Tu ainda tás fina, como fazes questão de nos lembrar, tás é tao fraquinha, parece que perdeste toda a vontade de viver, aquela força e aquela alegria de nos encantar! Por vezes até evito te dar um beijo,com o medo que sintas na tua face o frio das minhas lágrimas a cair, é que não me consigo conter, sabes há quanto tempo nao te vejo sorrir? Faz hoje 300 anos, já nem sequer me lembro bem. Sabes aquela foto que o Pedro e a Paulinha te ofereceram no natal em que nem sequer te reconheceste? Aquela és tu. Aquele sorriso estupido que metia tudo e todos a rir, aquela felicidade, a vontade de viver, aquela força. Aquela é que és tu! Desculpa se amanha nao te voltar a ir ver, mas custa-me tanto ver-te sofrer daquele jeito, no fundo, ver-te morrer. No outro dia enquanto jantava, contemplava-te, admirava-te, olhava para ti no sofá enquanto dormias, tao sossegadinha, nem te mexias, nem sussurravas. Levantei-me da mesa discretamente, sentei-me do teu lado e toquei-te, aliás, apertei-te para que me sentisses. O meu medo era se seria daquela vez que nunca mais acordarias. Acordas-te e olhaste para mim. Eu sorri para tu ficares contente. Um sorriso forçado. Eu sei que o sabes. Como tambem sabes que eu sei que quando me disseste em voz baixa para que ninguém ouvisse"Paulinho quero ir ao hospital mas só depois do natal, tá bem?", quererias dizer "Paulinho leva-me daqui que eu já nao aguento mais". Afinal estavas mesmo fina. Sempre foste assim, sempre colocaste o bem-estar dos outros á frente da tua própria saúde. Mas tens tanto frio, nao é avózinha?
Neste momento em que te escrevo já tiraste o bilhete de ida sem volta e, como sabes, esse é o momento em que aguardo pelo reencontro com uma santa velhinha já morta.
Neste momento em que te escrevo já tiraste o bilhete de ida sem volta e, como sabes, esse é o momento em que aguardo pelo reencontro com uma santa velhinha já morta.
Até Sempre Bórinhas